Sunday, March 20, 2005

Não sei se simplesmente reconheço o óbvio, mas ando pensando sobre como as linhas entre transporte, comunicação e autoria estão cada vez mais borradas. Não digo num nível fundamental, físico ou filosófico, onde estes conceitos são naturalmente próximos (a comunicação vista como transporte de informação no espaço, por exemplo). Penso em como o avanço tecnológico afeta o dia-a-dia das pessoas permitindo a intercambialidade de processos antes vistos como muito diferentes.

Email, instant messaging, ferramentas de trabalho colaborativo (a palavra groupware é tão anos 90 nesses tempos de wikis e folksonomies) conspiram para tornar o trabalho à distância tão ou mais eficiente do que a cooperação presencial. Evidência anedotal(*) revela que uma boa conversa de messenger na hora certa é muito mais eficiente do que qualquer reunião. Ou seja, viajar continua sendo ótimo, mas é cada vez menos necessário.

E a produção de conteúdo, que chamarei de "autoria" porque este texto está pobre em jargões, mudou profundamente. A democratização das tecnologias de distribuição permite que todo indivíduo tenha à sua disposição o mesmo potencial de alcance de grandes jornais e editoras e em breve rivalizará com as cadeias de televisão. Antes primado de artistas e especialistas, a autoria e disponibilização global de conteúdo estão ao alcance de qualquer um. A pergunta inevitável é quem serão os leitores, ouvintes, espectadores, apreciadores desta montanha de conteúdo criado por "qualquer um". Especialmente considerando que quando o autor é "qualquer um", a qualidade também é "qualquer". Aí que entra o conceito de comunicação. Uma boa parcela desta enorme produção será consumida apenas por amigos e conhecidos do autor. A comunicação em tempo real, presencial ou mediada, está sendo complementada pela geração de conteúdo disponível estáticamente na internet. Conversas se tornam permathreads, vivos caminhos difusos na web. Comunidades não moram no yahoogroups ou em qualquer outro site; são, como na vida off-line, redes difusas de contatos associadas a conjuntos, também difusos, de memes compartilhados.



* Evidência anedotal == eu realmente acho que isso é verdade mas não tenho argumento nem evidência objetiva nenhuma para te convencer disso. Mas dizer "evidência anedotal" é bem mais legal do que "eu acho que".

Misc Misc

  • Belo artigo do Cory Doctorow comentando a inevitabilidade da proliferação de parasitas em ecossistemas complexos (como SPAM no email). E como isso é apenas um preço a pagar pela riqueza dos sistemas.
  • O Allen Holub persiste escrevendo artigos com os quais eu discordo. E que, não obstante, são brilhantes. A despeito das conclusões exageradas, ele sempre apresenta uma boa argumentação e premissas não óbvias.

Friday, March 18, 2005

Misc Misc Misc

  • A amazon lançou a tecnologia OpenSearch na sua engine a9.com. Funciona como um agregador de mecanismos de busca, semelhante aos agregadores de RSS. Qualquer desenvolvedor pode definir um sistema de busca escrevendo um documento xml (vagamente análogo a um WSDL) e expondo os resultados no formato OpenSearch RSS. O protocolo de comunicação é simplesmente uma chamada à uma URL definida (HTTP GET), inserindo os parâmetros de busca nos lugares apropriados. Ou seja, o a9.com é um consumidor de Web-Services REST. Outra boa escolha foi basear o formato dos resultados no RSS, assim todo o corpo de software existente para lidar com blogs pode trabalhar com o OpenSearch.
  • O Google lançou um site para os seus projetos open source. No momento tem pouca coisa disponível: umas bibliotecas em Python e C++ e umas ferramentas de programação. Isso pode ser o embrião de um envolvimento maior do pessoal incrivelmente qualificado que trabalha no googleplex com software de código aberto. Mas hoje parece apenas uma resposta às críticas recentes que o Google aproveita muito software livre e não retribui nada (se ele é um serviço, não redistribui nada, e portanto é imune às partes contagiosas da GPL). Time will tell.
  • A Sun (sun research) está desenvolvendo uma linguagem focada em computação científica e de alto desempenho chamada Fortress. Leia-se Fortran do século 21 para supercomputadores. O pai da criança é o Guy Steele, um dos criadores das linguagens Java e Scheme.
  • Não costumo falar muito de eLearning, que é o foco do meu trabalho atual. Mas ler este artigo é imprescindível para quem tem algum interesse na área.

Sunday, March 06, 2005

Bits, elétrons e átomos

Se o leitor acompanha a Folha de São Paulo, sabe que é raro encontrar uma edição em que somente um colunista critica a taxa de juros. A rejeição às sucessivas altas da Selic parece ser um sentimento generalizado na sociedade - exceto entre os membros do Copom e um ou outro economista da PUC-RJ. Eu avisei no primeiro post deste blog que pretendia falar sobre um monte de assuntos sobre os quais eu na verdade não sei quase nada. Economia não é exceção. Mesmo.

Disclaimer feito, voltemos ao assunto. A taxa é alta para tentar forçar uma baixa na inflação. O Banco Central fixa um valor desejado para inflação, divulga-o, e passa o resto do ano regulando a Selic (taxa de juros básica da economia). Mas isso não funciona lá muito bem, como é denotado pela posição brasileira de líder no ranking mundial das taxas de juros. Isso se dá, entre outras razões, devido ao alto peso dos preços adminstrados nos indíces de inflação.

Preços adminstrados são aqueles que não são determinados pela dinâmica de mercado, mas direcionados pelo governo. Em geral correspondem aos chamados monopólios naturais, como os sitemas de saneamento, telecomunicações e energia. Estes serviços correspondem a uma parcela importante do mercado consumidor e influenciam a formação de preços de quase toda economia. No Brasil, o processo de privatização culminou em contratos que estabelecem reajustes regulares dos preços destes serviços; portanto não podem ser influenciados por variações nas taxas de juros. Vamos tentar analisar o quão naturais são, realmente, estes monopólios.

O fim da abundância de água potável no planeta é alardeado pelos ambientalistas. Esta realidade, aliada a dificuldades logísticas intrínsecas, torna praticamente impossível algum modelo de competição para o setor. Qualquer que seja o modelo de negócios, envolverá, necessariamente, uma participação pesada do governo.

No ramo da eletricidade, hoje, a logística também é um grande limitador. A infra-estrutura de postes e linhas de transmissão é caríssima, para não falar nas usinas de "geração" em si. Mas o caso é bastante diferente do saneamento, visto que, enquanto que o consumo de água é literalmente vital, ninguém usa realmente a eletricidade(1). Ela é, tão-somente, um meio de transmissão de energia. Nas usinas esta é transformada de algum estado original, como a energia química do petróleo, em elétrica(2). Na outra ponta, na sua casa por exemplo, a energia elétrica é transformada novamente em alguma forma útil. Seguindo com o exemplo, esta poderia ser a energia do movimento das pás do ventilador, que torna possível a vida em lugares inóspitos como São Paulo. E daí? Daí que qualquer sistema mais eficiente para transformar alguma forma "natural" de energia em outra que seja útil para os usuários pode revolucionar a indústria. É claro que isso não é fácil e, provavelmente, a eletricidade como um intermediário estará presente. Mas aqui temos um setor onde modelos competitivos são possíveis dadas as necessárias inovações tecnológicas. Infelizmente eu creio que tais inovações são do tipo que demoram para serem criadas e depois demoram ainda mais para serem adotadas. Em resumo, existe luz no fim do túnel, mas este é longo...

Chegamos enfim ao lucrativo mercado de telecom. A lucratividade advinda da condição de monopólio natural era inevitável quando este mercado se definia por "transmitir ondas sonoras entre localidades distantes usando variações de voltagem em fios condutores". Mas hoje é patente que uma definção mais correta do setor seria "transmissão de informação entre pontos distantes". O problema para as teles é que transmitir bits é fácil - muito mais fácil do que energia elétrica ou átomos de água. A informação pode viajar através de ondas de rádio, pulsos de luz, sinais de fumaça, etc, etc... A conclusão lógica é que o papel do governo neste "novo" mercado da "transmissão de informações"é desmontar as regulamentações da época do "transporte de ondas sonoras" e deixar a mão invisível dar um tapa na bunda das empresas que não se adaptarem.

Se a memória do leitor for parecida com a minha, neste momento você já deve ter esquecido do disclaimer, então vou repetir: eu não entendo nada de economia. Take everything I just wrote with a huge grain of salt.



(1) Eu sei que correntes elétricas fazem parte da maquinaria do sistema nervoso, mas não precisamos enfiar o dedo na tomada para ter um pensamento. Pelo menos na maioria das vezes.

(2) Energia de movimento (cinética) dos elétrons.

Saturday, March 05, 2005

Microsoft usado servidores sun




São USS$850.000 em servidores sun com processadores AMD Opteron rodando Windows 2003. (fonte).